Glosas de Dedé Monteiro

Postado por | Postado em | às 11:13

Mote:
“Cantava quando eu chorava
E hoje chora quando eu canto”
(para Luiz Marques)

Quem já fez tanto por mim
Nas avenidas do quarto,
Entre gestação e parto,
Nu zigue-zague sem fim;
Quem sempre me disse “sim”
E sempre enxugou meu pranto;
Esse alguém que eu amo tanto,
Que em pequeno, me encantava,
Cantava quando eu chorava
E hoje chora quando eu canto.

Mote:
Ninguém vira eternidade
No coração de ninguém”
(para Diomedes Mariano)

Jurei ao padre e ao juiz,
No cartório e no altar,
De eternamente te amar
E só te fazer feliz.
Foi isso o que eu sempre quis,
Porque te queria bem.
Mas depois de um vai e vem,
Constatei que, na verdade,
Ninguém vira eternidade
No coração de ninguém.

Mote:
Conforme sempre acontece,
Vou partindo com saudade”
(para João Rocha)

Todo ano eu bato asa
De lá do sul do país
E venho passar, feliz,
Umas semanas “em casa”.
É carne assada na brasa,
É bebedeira à vontade...
Mas, sem ter necessidade,
O dia “D” aparece...
E, como sempre acontece,
Vou partindo com saudade.

Mote:
(sobre o lançamento dos livros em Tabira)
“Os dois aplaudiam tudo
Do janelão do infinito”
(para papai e mamãe)

Quando vi a multidão
Senti um troço esquisito...
Gonga falou: “Meu irmão,
To besta, não acredito.!”
Faltou somente um casal
Pra festa ser mais legal,
Mas a lanterna da fé
Me deixou menos aflito,
Porque, num sorriso mudo,
Tendo o luar por escudo,
Os dois aplaudiam tudo
Do janelão do infinito!

Mote:
“Nossa vida é emprestada
E o dono precisa dela”
(para Lourdinha de Virgínio)

Como um empréstimo feito
Num estabelecimento
Tem sempre o seu vencimento,
A vida é do mesmo jeito.
Quer doce como um confeito
Que a boca inocente mela,
Quer triste como um vela
Que tem que ser apagada,
Nossa vida é emprestada
E o dono precisa dela.

Meu pai viveu muitos anos.
Sofreu bastante e gozou,
Foi aprendiz e ensinou,
Como milhares de humanos.
Cruzou bravos oceanos
Comandando a “caravela”.
Mas no final da “novela”
Partiu sem reclamar nada...
Nossa vida é emprestada
E o dono precisa dela.

Buscando a felicidade,
Fez sucesso em toda parte.
Não ficou rico na arte,
Mas ganhou fãs à vontade!
Artista de qualidade,
Fez da vida uma aquarela.
Por isso, ao sair a tela,
Deixou saudade dobrada.
Nossa vida é emprestada
E o dono precisa dela.

Mote:
“Botando a alma na pena”
(para Afonso Manú)

Pra quem perdido se sente
Tombando em cima do passo,
Um silencioso abraço
Vale um discurso estridente.
Mesmo que Deus nos garanta
Que a fé a tudo suplanta,
Da morte é tão triste a cena,
Tão dura, que um vate, ao vê-la,
Só poderá descrevê-la
Botando a alma na pena.
Dedé Monteiro

Comments (2)